Prezados Professores, Alunos, Funcionários e Amigos da EPGE
Não sou muito dado a comunicações coletivas, posto que fatos em geral falam por si mesmos. Há ocasiões, entretanto, nas quais a fala à qual se associa determinado fato avoca inexoravelmente para si o auxílio da memória coletiva. Nestas ocasiões abre-se uma importante porta na qual três gerações são convidadas a se encontrar.
A geração presente é chamada a instruir a futura acerca de como ela foi tão gentil e exemplarmente instruída pela geração passada. Lições de vida neste caso podem ser tão valiosas que aquilo que inicialmente se motivara por uma justa homenagem aos que se foram pode acabar por refletir, em última instância, uma grande dádiva aos que estão por vir. O presente serve ao passado, mas acaba por servir ainda mais ao futuro.
Não sabia explicar exatamente o porquê, mas quando assumi a direção da Escola estava absolutamente claro para mim que minha primeira ligação como diretor deveria ser para um senhor de 90 anos de idade, Professor Ney Coe de Oliveira. Pedi a Regina Luz que me ajudasse em tal tarefa, o que ela fez com grande ânimo. Pude sentir que ela compartilhava comigo a emoção daquela empreitada. Aqueles que trilharam os vários caminhos de nossa Escola nos últimos trinta anos não terão dificuldade em entender porque agimos ao mesmo tempo instintivamente, mas com absoluta certeza de estarmos fazendo algo de grande importância.
Não obtivemos sucesso das primeiras vezes que ligamos. Mas, algum tempo depois, conseguimos falar ao telefone com sua esposa e, posteriormente, com ele. Pude então visitá-lo em casa, ele e sua esposa, acompanhado de Celso Castro, Diretor do CPDOC, e de Arbel Griner, pesquisadora deste mesmo Centro. Tivemos então o grande prazer de constatar que ele estava animado e bem de saúde. Batemos um bom papo e trouxemos à tona parte de sua fantástica memória. Fiquei impressionado, e posso dizer que os colegas presentes também, com a riqueza de detalhes com a qual ele descreveu várias passagens pessoais associadas à Fundação e à EPGE, que iam de meados dos anos 40 ao final do século passado.
Ficamos também muito contentes em constatar que ele estava bastante animado com a idéia, que então lhe aportamos, de fomentar o processo de institucionalização de suas memórias. Professor Ney concordou com uma nova edição em livro de detalhados textos nos quais ele registrara grande parte do passado da Escola. Este texto está sendo editado com a valiosa colaboração de Arbel Griner e Teresa Duclos. Posteriormente, ele foi entrevistado por Carlos Sarmento e Arbel Griner, Carlos Sarmento professor pesquisador do CPDOC. Esta entrevista fará parte de um segundo livro, este de entrevistas, com vários nomes que moldaram nossa EPGE. Tenho a esperança que estes e outros textos ajudem as gerações futuras a entender o quão importante foi a contribuição do Professor Ney na construção de nossa Escola e na orientação de várias gerações de alunos que tiveram o privilégio de tê-lo como mestre.
Para mim, pessoalmente, Ney Coe de Oliveira será sempre aquela pessoa culta, facilmente acessível e maravilhosa que conheci em 1981 como aluno da EPGE. Um professor que conseguia exigir dos alunos todo o rigor do trabalho acadêmico sem nunca deixar de ser doce; que traduziu como poucos a dedicação a nossa Escola e o amor ao nosso país.
Rubens Penha Cysne
Diretor da EPGE